quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Nefertiti: “A Bela que chegou, grande esposa real, soberana de dois países, para sempre imortal”

            O Egito é desde sempre um grande fascínio para o Homem, devido à sua mitologia, arte e modo de vida. Como exemplo disso, temos Platão, que se deixou apaixonar por esta terra mágica, e podemos observar isso na sua obra Crático. Séculos mais tardes, encontramos como influência para “A Flauta Mágica”, de Mozart, o Egito e, também, Napoleão.
Ainda no século XIX, o Egito tornou – se um foco de atenção de estudiosos ávidos de descobrir algum túmulo ou vestígio egípcio. Assim, muitas peças de arte foram levadas para os grandes museus da Europa, seja legalmente e, em muitos casos, ilegalmente. Devido às perdas do seu património, foi criado o Museu do Cairo, em 1858.
A arqueologia egípcia encontrou o seu apogeu com a descoberta, em 1922, por Howard Carter, do túmulo de Tuntankhamon e, tmbém, com o vislumbramento do famoso busto da rainha Nefertiti, por parte do alemão Ludwig Borchard, em Tell – el- Amarna, em 1912.
E desta belíssima e misteriosa rainha, esposa de Akhenaton, que podemos encontrar na quarta parte do trabalho.
 As origens e a sua vida estão ainda repletos de mistérios, sabendo – se muito pouco sobre esta grande personagem no Antigo Egito. Esta bonita rainha, representada ao lado do marido Akhenaton e da sua família foi representada como nunca nenhuma outra foi.
                Porém, a certa altura o seu rosto e nome foram apagados de certas obras de arte, como hoje são consideradas, e não mais se falou do seu nome. Neste trabalho tento reunir a informação que encontrei sobre “a bela que chegou” e as variadas hipóteses dos grandes historiadores sobre a sua morte incerta.
 
O Antigo Egito                                                                              
                O Egito está localizado no continente Africano e contém 30000 km2. As origens de civilização egípcia remontam a 4000 a. C., pois a população concentrou – se no vale do Nilo, “o grande protector da civilização egípcia” (SEROMENHO, Luzia, 2005) – longo e tranquilo rio que atravessava o Egito. Ao longo do rio formava um estreito vale, que provocava anualmente cheias que deixavam para trás o lodo, a base de riqueza agrícola do vale. Esta população que nas margens do rio se instalou, criaram cidades agrícolas, desenvolvendo, assim, o Alto - Egito (a sul) e o Baixo - Egito (a norte).
                O Alto Egito associava –se ao deus Set e a vários símbolos, tais como a coroa branca e a flor de lótus – criação, morte e renascimento.
                O Baixo – Egito, por sua vez, é associado ao deus Hórus e é a coroa vermelha e o papiro os seus símbolos.
                Assim foi até o faraó Narmer, que unificou todo o Império. Com a unificação, a cultura egípcia prosperou e ocorreu várias inovações, tais como, a moeda, o calendário agrícola, o arado, a escrita hieroglífica e o fabrico de papiro – uma espécie de papel elaborado por uma planta denomina papiro, entre outras.
                A população do Antigo Egito acreditavam na vida para além da morte, e, para tal, aplicavam – se na construção e decoração do local onde o seu corpo iria ser colocado.
                As pirâmides e, principalmente, as pirâmides de Gizé são consideradas um emblema e símbolo universal do Egito.
                Desde a Antiguidade, estas construções atraíram vários visitantes cultos e saqueadores, por isso, poucos túmulos chegaram intatos até à sua descoberta, como o túmulo de Tuntankamon, descoberto a 1922, por Howard Carter.
                Dos viajantes europeus que estiveram no Egito e o descreveram, como John Greaves, na sua obra Pyramidographia (1646)a, Maxime du Camp, Ricardo Guimarães, Rudyard Kipling, Mark Twain, Gustave Flaubert e, finalmente, Eça de Queirós, entre outros.
Na sua viagem de Eça de Queirós, a 1869, com o conde de Resende, deixou – nos fortes descrições das pirâmides, não se afastando dos seus mistérios.
                Os últimos governantes foram sepultados nas colinas rochosas ou em túmulos subterrâneos no vale dos Reis.
Akhenaton
(c. 1350 – 1334 a.C.)
XVIII Dinastia 
 
“visto como um visionário, um revolucionário, um idealista e até mesmo como um herético” (SEROMENHO, Luzia, 2005)
Este misterioso faraó, filho de Amen – hotep III, tinha o nome de Amen – hotep IV.
Quando chegou a altura de casar, foi – lhe escolhida Nefertiti, “a Bela chegou”, e quando assumiu o poder tentou mudar a sociedade egípcia para monoteísta, com culto a Aton.
Para tal, criou uma nova capital, Amarna – edificado “num local sem vícios, indicado pelo próprio deus Aton, que considerou ser aquele o lugar ideal para se adorar o sol” (SEROMENHO, Luzia, 2005). Mudou, também, o seu nome para Akhenaton, que significa “o que adora Aton”.
Porém, esta ideologia criou – lhe inimigos, morrendo provavalemente, assassinado com 30 anos.
Apesar do seu esforço, a reforma estava condenada ao fracasso, pois, após a morte do faraó, o clero de Amon restaurou o culto da sua divindade.
Tutankhaton subiu ao trono e, mais tarde, mudou o nome para Tutankhamon, o que demonstra a mudança da política religiosa.
Este faraó está repleto de mistérios, sendo mesmo questionado a sua sexualidade e masculinidade, muito devido à representação do faraó, em que surge com barriga dilatada e com peito semelhante aos seis de uma mulher.
No entanto, este foi o período mais realista da arte egípcia.
Nefertiti                                                                                        
                Pouca informação nos chegou sobre Nefertiti. “Os testemunhos da vida de Nefertiti são tão mais preciosos quanto raros” (ROLAND, Claudine; GROSJEAN, Didier, 1990).
                Do que sabemos, Nefertiti, nome que significa “a mais Bela chegou”, o que levou a certos historiadores a considerarem que as suas origens são estrangeiras.
                Porém, a hipótese de que Nefertiti era filha de Ay – alto funcionário egípcio que tinha a cargo os carros de guerra e que se tornou faraó após a morte de Tutankamon. Por sua vez, Ay era irmão de Tié, esposa principal do rei Amen – hotep III, pai de Akhenaton.
                Não se sabe que idade Nefertiti e Amen – hotep, futuro Akhenaton, quando casaram. Porém, a idade média de casamentos no Antigo Egito para mulheres era os treze anos e para os homens, os dezoito.
 
 
                Akhenaton não era destinado a ser rei. Porém, o filho mais velho de Amen – hotep III, Tutmés, morreu. Assim, Akhenaton ocupou o seu lugar.
                Durante o início do seu reinado, Akhenaton preparou as mudanças religiosas que culminavam na doutrina atonismo – Aton ocupar a posição central. Para tal, o faraó mandou construir quatro templos dedicados a Aton.  Num desses templos, Hutbenben, Nefertiti surge representada como a única oficiante do culto, em conjunto com a sua filha, Meketaton.
No quinto ano do seu reino, Amen – hotep IV troca o seu nome para Akhenaton e Nefertiti colocou Nefernefemuaton, que significa “perfeita á a perfeição de Aton”. Assim, a rainha passou a ser representada com a coroa azul.
                Durante o seu reinado, Akhenaton introduziu o conceito de monoteísmo, um só deus. Após a sua morte, o Antigo Egito voltaria às suas práticas politeístas.
                Nefertiti e Akhenaton tiveram seis filhas, Meritaton, Meketaton, Ankhesenpaaton, Neferneferuaton, Neferneferuré e Setepenré.
                Meketaton faleceu afogada. E mais tarde, um surto de peste, conhecido à época como “doença mágica” matou mais três filhas do casal.
                 Com Kia, uma esposa secundária, Akhenaton teve Nebnefer, que morreu durante o surto de peste, e Tutankhaton, que mais tarde o nome mudou para Tutankamon.
                Nas suas “memórias”, Nefertiti termina o seu relato no ano 12 do reinado, após a morte da sua filha e Semencarê tornar – se co – regente ao lado de Akhenaton, ao longo de três anos. Em aluns baixos – relevos, o nome e rosto de Nefertiti foram apagados e substituídos por Meritaton, a sua primeira filha.
                Face a estes factos, vários estudiosos lançaram certas hipóteses, entre as quais:
·         Nefertiti morre pouco depois da sua filha e Semencarê tornou – se co – regente e desposou Meritaton;
·     Nefertiti não concorda com Akhenaton relativamente às suas reformas e tenta reconciliá –lo com o clero de Amon. Como consequência, Akhenaton repudia – a;

·         pelo contrário, é Akhenaton que percebe que chegou longe demais com o seu plano e tenta reconciliar – se com o clero de Amon. Nefertiti, por sua vez, não concorda com a sua decisão e Akhenaton escolhe Semencarê como co – regente;
·         Meritaton torna – se Esposa Real. Nesta teoria surge a hipótese de Akhenaton ser homossexual, pois existe uma obra de arte em que Akhenaton surge a acariciar uma personagem coroada, que poderá ter sido Semencarê;
·         Akhenaton apaixona –se por Semencarê e Meritaton desposa ou o seu pai ou o co – regente;
·         Nefertiti torna – se co – regente e toma o nome de Semencarê. Meritaton desposa Akhenaton e desempanha o papel de Esposa Real.
Muitas são as perguntas de como a bela rainha terminou a sua vida. Terá morrido abandonada e humilhada pela própria família, num palácio? Ou acedeu ao poder supremo?
Ao longo do tempo, pouco mais se soube para além disto. Só em 6 de Dezembro de 1912, foi encontrado em Amarna, o famoso busto inacabado da rainha Nefertiti, por uma equipa arqueológica da Sociedade Oriental Alemã – Deutsche Orient Gesellchaft – liderada por Ludwig Borchardt (1863 – 1938).
A forma como este busto saiu do Egito é pouco clara, porém este busto foi entregue a James Simon, uma dos patrocinadores da expedição.
Em 1920, a obra foi doada ao Museu Egípcio de Berlim, onde só em 1923, passou a ser exibida.
Em 2003, a egiptóloga Joanne Fletcher anunciou que identificou uma múmia como sendo Nefertiti, no túmulo do rei Amen – hotep II, no Vale dos Reis, devido a uma peruca usada por uma das múmias. Porém, essa múmia devido à dentadura foi identificada como sendo uma mulher de vinte e cinco anos, tornando – se, assim, pouco provável ser Nefertiti. Mais tarde, pode – se ver que os ossos da múmia estavam juntos e sólidos, o que leva a querer que a múmia poderá ter morrido com trinta e trinta e cinco anos, o que de novo levanta a possibilidade de ser a múmia de Nefertiti.
Fletcher conseguiu permissão do governo egípcio para fazer um exame de DNA à múmia, o que esse exame mostrou não ser Nefertiti, mas sim da irmã dela.
Notas conclusivas                                                                        
                Enquanto que a Europa vivia ainda na Pré – História, no continente Africano gerava uma civilização às margens do rio Nilo que, ainda hoje, continua a fascinar, “uma civilização grandiosa, rodeada de uma aura de mistério e prestando – se a muitas interpretações” (SERMENHO, Luzia, 2005).
                Este país foi “uma terra de artistas, comerciantes, matemáticos e sábios” (SEROMENHO, Luzia, 2005) e, como exemplo disso temos ainda hoje as pirâmides, símbolo do Antigo Egito.
Sobre Nefertiti, O passado da rainha  quase que se pode dizer que está repleto de um nevoeiro que paira sobre ele. Diz – se ser filha de Ay, irmão é Tié, esposa principal do rei Amen – hotep III, pai de Akhenaton. Não se sabe que idade Nefertiti tinha ao casar com Akhenaton, mas sabe – se que o casal apesar das desgraças – foram mortas quatro filhas do casal -, estes sempre se mostraram bastante felizes nas representações familiares.
                Assim, ainda mais estranho se torna no fato de não se encontrar vestígios após o ano 12 do reinado de Nefertiti, tanto o relato das suas memórias, como a representação do nome a rosto, certas partes fossem apagadas. Por isso, surge imensas dúvidas de que como Nefertiti terminou o resto da sua vida.
                Ainda mais estranho se torna, pois apesar de se descobrir obras de arte belíssimas, como é o caso do famoso busto de Nefertiti, a sua múmia ainda hoje não foi encontrada.
Bibliografia                                                                                   
·         ARAÚJO, Luís Manuel de - Egipto: As Pirâmides do Império Antigo . Edições Colibri, 1992
·         ARAÚJO, Luís Manuel  de [direc.] – Dicionário do Antigo Egipto . Lisboa: Caminho, 2001
·         DAVIES, Penelope J. E. [et al.] – A Nova História da Arte de Janson: A tradição Ocidental . 7.ª edição . Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010 . ISBN 978-972-31-1315-0
·         JACQ, Christian – Akhenaton e Nefertiti: o casal solar . 2ª edição . Lisboa: Veja, 1996 . ISBN 972-699-506-X
·         ROLAND, Claudine; GROSJEAN, Didier – Nefertiti: a bela que chegou, grande esposa real, soberana de dois países, para sempre imortal . Rio Tinto: edições asa, 1990
  • SEROMENHO, Luzia – O povo do Nilo: o Egipto dos faraós . 1ª edição . Lisboa: Líderes e Povos, 2005 . ISBN 972-618-383-9